segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Planar

Estar num estado de graça, significa o quê?
Que se vai morrer em breve?
Sinto-me ligado a tudo o que me rodeia,
sem nada querer possuir,
a não ser a mestria de planar no desprendimento.

Aconchego

A fadiga do meu sono rendeu-se por fim à noite demorada.
Deitado, em meu aconchego, soltei meus filmes interiores,
esses mundos, essas outras vidas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Brinde ao silêncio

Dentro do possível deste meu canto,
Dou-te o que te posso dar, de sentir desprendido,
Vem, aqui estarás abrigada dos medos,
das angústias. Podes deixar-te ser quem és.
Minha tranquilidade ferida, dor sorridente.
Aproxima-te do esquecido orvalho,
pois a noite já se foi.
Aquece-te nas fagulhas dos pensamentos
E faz um brinde ao silêncio.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Celebração

Olhas orvalhadamente o horizonte tão perto. Cabelos de menina a contar as cores do arco-iris. Sonho tua presença, no lugar onde sinto tua ausência. Ai, as tuas mãos, quero sussurrar para elas minha essência e depois... Depois é outro dia. A luz é linda e tu também. É um instante de plenitude. O horizonte é nosso. E como uma espécie de névoa da madrugada que se dissipa, senti no meu peito algo transbordando, como uma dor habitual que nem sentimos que acabou. Sim, é espantoso. Eu estava feliz.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Um novo alento

Meu olhar cavalga um raio de luar para a ti chegar e acariciar o aveludado Verão da tua face. Em teu alheado sentir, sorris e respiras fundo, pois teu dia acabou de adquirir um novo alento.

Tu és

Adormeceste?
Rendeste-te a sonhos de suaves esquinas e lunares expectativas.
Adormeceste?
Sorris no teu aconchego. Eu espero...
Ouço ao longe os sons alegres do teu sonhar.
Aproximo-me.
Sinto o calor da tua pele.
Devagar, rendo-me ao embalo do teu respirar.
Adormeço.
E sonho que meu sonho é sonhar-te a sorrir
enquanto te delicias com os mistérios do que deliciosamente tu és.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Eis a questão

Agarra a mistura. Desvenda a alquimia do voo dos milhafres. Os bosques ali embaixo nada dizem. Um código de silêncio impera. Faz do frio veloz teu Outono, tua embaraçada pintura, de inocência impregnada. A flor nasce assim do cimento iminente, feita coração de cera. De que adianta afinal toda a encenada protecção? Nada mais do que um vitral: translúcido, luminoso, mas não o próprio sol. Mas de imperfeito, apenas as naturais marcas do tempo, doridamente belas. Aprendi a nelas ver o real esplendor e singularidade tantas vezes resguardado por trás de subtis cataventos. A bravura em se questionar quem realmente se quer ser. Eis a questão. A perfeição é arquitectura e no coração nada há de arquitectura. Não trocaria o meu coração quebrado e imperfeito por nenhum outro. Nele está a minha história, a minha viagem, a minha maior tolerância, compaixão e cada vez maior capacidade de amar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Constelação

Um poema a dois.
Dormente sintonia
no alinhamento.
Olha a Lua! Olha o Sol!
E tudo entre eles.
Céu e Terra.
O partilhado silêncio
ruma até um qualquer
oceano de estrelas.
Um poema a dois
fixa-se na esfera celeste
como sua nova constelação.