sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Olá ao porvir

Vem ver a nova encarnação,
o espaço a espreguiçar-se noutro espaço mais vasto,
pois o tempo é de revisitar.
Revelas-me tua esfinge, por mim imaginada.
De braços abertos, recebo o sabor e o cheiro
de uma vida servida como álbum de fotografias.
Não falo de regressão, falo de paixão.
Desejo fecundar-te com nossos sonhos antigos,
dizer por fim olá ao porvir.

sábado, 24 de outubro de 2009

Toda a emoção

De empurrar os dias para debaixo do tapete,
gasta-se o rastilho que nos aprisiona,
o doce rastilho camuflado de céu
com aquelas nuvens enganadoras.
Olhamos. Olhamos para cima por trás de óculos de sol.
Andamos uns contra os outros e desculpamo-nos
com a nossa profunda celestialidade.
Quem assim nos aponta com o nosso maior vício? A culpa.
A culpa vestida de dias em compassada sucessão.
Como se a culpa tivesse ritmo… Ou vaidade.
Com ela, podia aprender-se muito:
por exemplo, a simplesmente ser-se;
a ver que no seu olhar vago se pavoneia
toda a emoção da existência.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O peso da ilusão

Se eu falar da falha provocada pela espera,
talvez ela venha a desaparecer até da própria memória.
É ela a ter de lidar com tudo ou a ter de lidar com nada?
Simples se faz o pensamento,
o sentir de pensar o grande vulto do outro lado.
Ele vai e volta sem se mexer e cada uma das suas voltas
tem o peso da ilusão.
E nela presos, sonhamos ou julgamos sonhar
com falhas na nossa própria intrincada defesa.
A passagem do tempo fez dela uma sofisticada e triste muralha.
Não seremos heróis de coisa nenhuma,
mas romancearemos o nosso heroísmo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Improviso

Para onde foi o caminho da certeza
que um dia me apareceu à frente?
O caminho que obliterou os outros caminhos e foi celebração?
Falar de margens significa falar da possibilidade do encontro,
é falar também da impossibilidade do encontro.
E entre estas margens, correm as ideias, o sentir,
o passado e o futuro,
o perpétuo presente de um dia que nunca foi aniversário.
Acredito que o desaguar, a foz, é o que eu deles fizer.
(Às iminentes 7000 visitas desde blog, o meu obrigado por aqui terem passado)

domingo, 11 de outubro de 2009

Suspensão

Quantas vezes partes de nós morrem durante o dia?
Algumas nem as sentimos por força do hábito.
Mas em dias de trágica suspensão, não quero falar de tragédia.
De que quero falar então?
Da água da alma que é a memória.
Em dias assim, servem as recordações como bateria do corpo.
Elas dizem-nos, ou fazem-nos sentir que tudo ainda vale a pena.
Por exemplo, quando nada mais me apetece senão desistir,
penso em ti. Fico triste, mas também fico contente.

domingo, 4 de outubro de 2009

Por vezes

Pela dança vamos entrando, pelo ar que respiramos.
Nas passagens de uns pelos outros, só a imaginação se toca.
Feliz por vezes, no encontro da voz. Mas em dias assim,
tudo corre bem. Era uma vez uma brisa, um sonho, um tempo.
Os passos aprendem-se até à perfeição. O resto não.