sábado, 23 de outubro de 2010

Um outro nível de existência

Toda a ruptura simboliza, ao manifestar-se, a dualidade de todo o ser: tudo o que é vivo ou construído pode ser morto ou destruído, ou mais do que isso, trás o germe da sua própria destruição. In media vita in morte sumus (a morte jaz no coração da nossa vida). Vixnu e Xiva, deuses da destruição, não são mais do que dois nomes de uma única e mesma realidade. É a alternância da integração e da desintegração que significa a ruptura, marcando principalmente a fase negativa. Mas esta negação é a condição dum renascimento e de uma renovação. No plano material, dominar ou domar uma ruptura, uma infelicidade, é aceder a um outro nível de existência; o deleite moroso da ruptura, ao contrário, coloca a pessoa na via da regressão e da involução.

-O livro dos signos

domingo, 17 de outubro de 2010

Ton cours

Voie lactée ô soeur lumineuse
Des blancs ruisseaux de Chanaan
Et des corps blancs des amoureuses
Nageurs morts suivrons-nous d'ahan
Ton cours vers d'autres nébuleuses
-Apollinaire

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Meia luz

Ah... Diz-me o que é essa meia luz dentro do teu olhar. O céu da noite nunca é assim tão escuro... E tem as estrelas. Algumas caem com as tuas ocasionais lágrimas e chamam-lhes cadentes. Eu chamo-lhes compassivas, chamo-lhes saudosas... Porque não resistiram a regressar a casa. E tudo o que basta é esse momento luminoso de rasgar a atmosfera e não mais estar lá. E no momento de olhar já passou. Diz-me então que luz é... Para que eu sinta esperança numa qualquer eternidade escondida... Uma esperança escondida entre as flores de um jardim.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Uma espécie de vazio

De essência em essência se constrói uma espécie de vazio à volta da mais sonora invisibilidade, pois no escuro tudo perde validade menos a imaginação e a capacidade de ver. Os pedaços recortados de céu azul com nuvens somos nós a sonhá-los no tecto, como se fossem a deliverança falsamente ambicionada. De retórica se constrói afinal a visivel essência.
-Dás-me luz? -alguém pergunta. Nada afinal está de facto perdido.