quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Embalo

nu embalo das histórias sussurradas
no embalo das cortinas ao vento
no verão dos corpos poentes
nu suor da pele embalada

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Sinto


Eu respiro e isso traz memória do cheiro da ferrugem
a rodear uma energia assustada afogada nos meus braços.
Desapareces na parede, na barragem de conversa 
e eu encosto-me a ti e sinto o teu ventre quente.

domingo, 17 de agosto de 2014

Escolher


Amor é veículo de crescimento. Sonhar ninguém sabe bem o que é. Vivemos para ser e para deixar de ir tendo. Sonhamos e sonhamo-nos. Os valores maiores da nossa humanidade são a vida e o amor. Eu escolho ser feliz, eu escolho amar, eu escolho ser caminho, eu escolho compadecer-me com a frágil humanidade de uma vulnerabilidade velada. Eu escolho ser o sonho e dançar ao ritmo da criatividade, essa nudez do ser. Eu escolho olhar dentro dos olhos de quem de mim é mestre e render-me para que possa crescer, sonhar, criar. Nada levamos connosco. O que de facto somos, fica para trás, na memória de outros. Teremos existido de facto? Ou seremos apenas um pensamento que alguém teve um dia? Que seja um bom pensamento. E isso não depende desse alguém no futuro. Depende de nós a cada passo no caminho que é nosso. 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Solstício de Verão


Quando seguimos o nosso coração, estamos sempre no caminho certo. Mesmo que isso por vezes cause sofrimento. É o crescimento mais importante. Não crescemos todos da mesma maneira nem ao mesmo tempo. Mas se estivermos um pouco conscientes dele, talvez possamos entender um pouco melhor, não só o crescimento, mas também as limitações dos outros. Porque afinal somos feitos dessas duas dinâmicas. Amar torna-nos sempre maiores. Mesmo que doa. Não se ama senão verdadeiramente.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Saber de mim


Quero saber de mim de um modo como as árvores delas não sabem, de um modo como as nuvens não sabem afinal de que são feitas. Quero saber de mim, como negociação do relâmpago com a eternidade, do sol que nada entende do dia e da noite ou a lua das marés. Quero saber de mim, como se em mim todas as bibliotecas do mundo convergissem e de mim uma única palavra brotasse. Uma palavra-relâmpago, uma palavra-eternidade, uma palavra-árvore. Uma palavra-sol para saber de mim. Uma palavra-chave. Porque tudo permite, tudo aceita, tudo vê, tudo sente. Quero saber de mim, porque ao saber de mim, sei de ti, sei de tudo. Sentir é saber, fechar os olhos é vislumbrar. Quero saber de mim para me bastar, para me revelar, para ser tudo e coisa nenhuma. Quero sentir-me e não saber que me sinto. Quero deixar de querer

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Alguém




Há por aí alguém que saiba de facto o que é e pratique o conceito de espalhar paz e tranquilidade pelas pessoas com quem priva? Que seja adepta da frontalidade, que diga uma coisa e essa coisa seja o reflexo do que realmente sente e pensa? Que não fale unicamente de si e saiba reconhecer que o seu interlocutor também tem uma vida e histórias para contar. Alguém com quem uma pessoa se possa sentir perfeitamente descontraída e que se dê na igual medida em que aceita receber. Que seja inteligente, mas não pontifique, que não disfarce a falta de intelecto com porcaria e mexericos e... os seus próprios conflitos? Alguém que seja de facto bonito por dentro? Beleza não é algo subjectivo. A beleza de que falo tem a ver com constância, com coerência no ser e no estar na progressão dos dias. Alguém que nos faça sentir bem, mesmo quando estamos longe dessa pessoa. Alguém que saiba o valor e o peso da responsabilidade de nos ter cativado. A beleza de não mentir, de não omitir, de não ficcionar a própria vida e circunstâncias de modo a manipular outros, com meias mentiras e meias verdades. Uma pessoa assim só pode ter uma existência triste e assustada. Por isso, procuro outro tipo de pessoa. Alguém que não seja compulsivo no bem que faz, como se corresse uma lista de compras; alguém que se responsabilize pela terra queimada que deixa atrás de si. Se souberem de uma pessoa assim, eu gostaria de conhecer. Obrigado.

«Don't be reckless with other people's hearts. Don't put up with people who are reckless with yours.»

sábado, 12 de abril de 2014

O futuro



Para que serve o futuro? Eu digo-vos para que serve o futuro. O futuro serve, no momento em que se torna presente, olharmos para trás e vermos o caminho percorrido: se as coisas más, más ficaram ou se afinal acabaram por ser coisas boas; se as coisas boas afinal não foram assim tão boas e algumas delas até mais pareceram maus sonhos; e como as desgraças, apesar de desgraças terem sido, delas terem germinado coisas tão boas que no presente seria impensável viver sem elas. O futuro serve para irmos percebendo se crescemos. O futuro, quando lá chegamos, é um binóculo com vistas para o passado e nos revela se temos vindo a caminhar bem ou mal, se tudo afinal, não era suposto ter sido assim. Poderíamos dizer então que não é o futuro de facto que nos dá esperança, mas o passado.

segunda-feira, 17 de março de 2014

O presente


Quanto mais a um nível emocional retirarmos de uma situação, mais facilmente poderemos deixá-la para trás. Apenas quando, mesmo inconscientemente, não tivermos aprendido o suficiente, iremos sentir uma perda. Portanto, em vez de olharmos para trás ou fazermos filmes com o futuro, tratemos de retirar as aprendizagens que o presente tem para nos proporcionar.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

70


Que andamos nós cá a fazer? Nenhum ser humano pediu para nascer. A vida é-nos literalmente impingida. As birras surgem depois de cá estarmos. Temos e sabemos que temos um tempo limitado de vida. Sai-nos na rifa um determinado tempo e espaço e tudo o que de bom e mau eles têm tem para oferecer. Com alguma sorte (ou azar), temos uns 70 anos para a experimentar e depois acaba-se tudo. Qual o sentido disto então? Por que parâmetros nos devemos guiar? Temos esta sensação que a vida vai durar indefinidamente. Sabemos que vamos morrer sim, mas somos os piores crentes na nossa própria finitude. As pessoas são incrivelmente desajeitadas e sem recursos quando se trata de consertar algo nelas próprias.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Pensamento para 2014


Sei que tudo acontece por um motivo. E as pessoas passam pela nossa vida (e nós pelas delas) por motivos que não conseguimos ver no momento. Mas é importante confiar nisso, que estamos num processo de aprendizagem. E nem sempre o que nos parece mais tentador ou o que mais desejamos é de facto o que é melhor para nós. É apenas a vida a ensinar-nos algo sobre nós próprios. E aceitar isto é muitas vezes duro, impossível mesmo. É importante, não nos movermos por entre as coisas, mas irmos pairando sobre elas. A nossa harmonia é essa. 
É importante reflectir sobre as coisas, mas não ficar paralisado por elas. É importante pairar sobre as coisas, não ir de encontro a elas ou resistir-lhes. É importante confiar nas cartas que a vida nos dá, no caminho que é o nosso ou nós dele. O importante não é ganhar, é ir jogando e ir jogando com mais sabedoria até o acto de ganhar ser irrelevante.