terça-feira, 29 de novembro de 2022

Cão


Que as façam então, as travessias.

Eu não estou interessado em molhar os pés

e o meu pesadelo é morrer submergido.

Este lugar construí-o eu

durante anos e anos de desaprumo.

Decidi fincar os pés e dele não abdicar.

Não me vendam águas escuras. 

Não me vendam água benta.

Não me vendam surdos slogans da multidão.

Não sou cão a ladrar atrás do camião.

Este cão já viveu as suas canzanas

nu meio das savanas.

É tempo de bocejar,

decidir não enfrentar o mar. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Poema esquecido



Escolho o desejo e o sonho.

Sonho-te e invento o desejo, 

desejo-te e realizo o sonho.

Tudo é transgressão do sentir, 

do viver, do sangue derramado,

o poema esquecido, a luz no escuro.

É um quotidiano transversal, escorreito,

tudo como deve ser, tudo errado, pois claro.

Urge revolucionar a surpresa, libertar a brisa.

Matei uma flor para ta oferecer antes de morrer.

Eu? A flor? O dar? O negar?

Sejamos humildes. É a vida que é grande,

já o viver nem sempre é.

Não a deixes passar por ti.

Hoje é meu dia de vendar os olhos.

O meu presente é a vulnerabilidade.

Não vejo nada ou talvez veja tudo.

Surpreende-me!