domingo, 25 de abril de 2021
Requiem
domingo, 4 de abril de 2021
A mulher e o seu cão
O cão, elevado, na retaguarda vigilante
numa canzana por cumprir.
A mulher, verdadeira fugidia esfinge,
pés ausentes fincados. É a sua
imobilidade e expressão a convocarem atenção,
e de seguida, os novos cabelos brancos
na negra cabeleira tão saudosa
por ter sido grades da jaula para mim criada.
Não fugi, expulsou-me e manteve intacto
o enigma incandescente.
O cão olha para um qualquer horizonte longínquo.
Essa é a sua essência segura e tranquila.
Ela, quem sabe para onde olha?
Para dentro de si, talvez.
Para todos os segredos plantados
pelos caminhos. Alguns deles eram pura delícia,
alguns deles eram ácido e amoníaco.
Olha o futuro, os caminhos perdidos, estropiados.
Olha o futuro encarquilhado, incerto. Em desafio.
É essa a incerteza no seu olhar:
temor, inquietação, mágoa.
A arrogância num enigma
no qual se deixou emparedar.
A esfinge é o olhar.