segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Balada da menina ausente

O cabelo dela é assim como uma daquelas aconchegantes memórias de infância. E depois, diz serem pequenos os seus olhos. Olhar fundo, vibrante da noite na planície. Olhar fechado para ver o que quer ver. O vazio. Ela podia ser uma pequena princesa, de pé na berma da falésia, ao vento, a procurar no céu o seu pequeno planeta. E a sua pequena rosa. Cada lágrima devolve um segredo ao mundo. Um rio. E se o seguirmos até à nascente, veremos um coração a chorar. Na planície, a máquina da imaginação plana com imóveis asas de anjo, mas imagina-se sempre com os pés no chão. Um exercício em disciplina. (Se sonha, é porque voa no escuro. Se não sonha, é como fome espiral de um dia a grande velocidade. Devagarinho). E durante todo este tempo ela dormia, bonita e indefesa como uma menina, pois enquanto dormia, podia permitir-se ser o centro da escuridão fervilhante que eram os sonhos. Neles, nenhuma silhueta era vazio e nenhum vazio era meio caminho. Dentro dela, cada planície ondulante de trigo era um constante renovar de um gentil horizonte.

3 comentários:

Anónimo disse...

P...

Embora ao ler, visse outra imagem, mais distante no tempo contado pelas horas e dias, a balada da menina triste é de uma ternura quase absurda, arrebatadora...

Que lindíssimo texto...

S.

Rosa Maria Ribeiro disse...

Pedro, que arrepio de beleza!

Maria disse...

Bemmmmmmmmm, que dizer?! O desenho é lindo. Podia dizer "a ilustração" mas... é tudo tão puro...tão cândido que acho que "desenho" é mais adequado. Muito, muito doce!

Maria João Tavares