segunda-feira, 16 de março de 2009

Paraíso

É quando lembro o teu olhar, o teu sorriso. Acontece como uma carícia quando menos se espera. Por isso, mesmo quando não estamos juntos, estamos juntos. Não existe arco-íris entre nós, antes caminhamos sobre ele, onde a única ausência é a da vertigem, pois o mundo está tão lá em baixo e aqui, à nossa volta, nada mais existe do que cor e nuvens. Alguma vez tive medo? Pergunto eu. Algumas vez não foi assim? A capacidade de esquecer dilui-se na capacidade de lembrar. E lembra-se o agora, de mãos dadas. Juntos aprendemos a capacidade de deixar de pensar.

domingo, 15 de março de 2009

O inferno

Não te esqueças de me dizer quem eu não sou. Não é algo que eu precise. Precisaria, sim, de sentir que posso confiar em ti. Mas isso não é possível, pois não? Na aparência da normalidade, caminhamos no fio da navalha e como tal, cortamo-nos a nós e cortamos outros. Se fotografias fossemos, nada mais faríamos do que riscar com raiva as nossas depois de riscarmos as dos outros. Primeiro riscaríamos com lápis afiados. Em dias mais calmos, descobriríamos que tentar apagar esses riscos se revelaria inútil. Os sulcos dos riscos continuariam lá. Com o tempo, isso deixaria de nos afectar e um dia, os lápis ficariam para trás e passaríamos a riscar com esferográficas. Diz o filósofo que o inferno são os outros. Eu diria que ao constantemente minarmo-nos a nós próprios, o inferno somos nós. Todo o mundo está em chamas.

terça-feira, 10 de março de 2009

Dança

Faz de mim a tua solidão. Não olhes para trás ou penses de novo. Caminha perpendicular à certeza dos dias que te fogem apesar do teu doce sorriso. Não deixes por isso de colher uma ou outra flor, assim, sempre ao entardecer. Algures num tempo ainda não sonhado, vais encontrar-me e a sorrir, oferecer-me-ás uma flor. Caminharemos lado a lado por um pouco e depois dirás adeus. Um dia, ainda vamos comparar recordações.

sexta-feira, 6 de março de 2009

A nossa casa

Deitados na suspensão das estrelas
num vagar de carícias lentas de luz.
A nossa casa é o domingueiro sentir
que ao longe nos pacifíca e seduz.

terça-feira, 3 de março de 2009

Poesia

Fazemos de conta. É o que fazemos. Fechamos os olhos,
acariciamo-nos, mas recusamos confessar não sentir.
O tacto foi-se. E com ele... Estou de saída.
Vou seguir para o próximo apeadeiro.
E como sempre havia sabido, sigo sózinho.
Mas por favor, chega de fazer de conta.
Nada é real a não ser por instantes, bem dentro das nossas cabeças.
E mesmo isso nada mais é do que ilusão.
Não me aventuro neste labirinto.
Escolho a simplicidade do caminho que vou seguir.
A beleza é uma armadilha. O amor, um jogo de poder.
Fazemos de conta, mas podemos escolher não o fazer.