sábado, 13 de setembro de 2008

O som

Recorda o coração que bate algures na cidade. O seu ritmo dita a cadência dos passos dos amantes, dos sonhadores, dos artistas, dos ninguém que nada mais têm do que o amor para lhes iluminar a vida. Recorda esse batimento debaixo da tua pele, esse apelo, esse grito. Danças sem te moveres, moves-te de olhos fechados, confiando na certeza do caminho, na certeza das direcções, do ritmo. Recorda o adeus, a ferida aberta, o dares-te para sempre ali, naquele instante. Recorda a voz surda, o lamento cego, a infindável mágoa, a inacreditável alegria. Recorda-o sempre dentro de ti, não esqueças nunca aquele dentro de quem amas, de quem amaste. Numa esquina qualquer, num jardim, ele nasce e renasce sem nunca morrer, é inevitável como a vida, vibrante e quente como o sol. Hoje, quando saires para a rua, pára por um pouco e escuta. Sustem a respiração. E sobrepondo-se lentamente à música dissonante da cidade, o teu coração irá reconhecer, livre de qualquer dúvida, o som do amor.
Graffiti fotografado na Travessa do Carregal, no Porto

1 comentário:

Maria Clara do Vale disse...

A fotografia está...simplesmente maravilhosa!!!...nem tenho palavras para comentar e...o texto...o texto só diz o que queremos entender??!!...
Não tenho palavras, Pedro!!!...
MC