Não basta. Nada basta. Um ano acaba, um outro começa. As pessoas são apenas uma pessoa, uma jarra quebrada colada, com flores secas e encarquilhadas dentro. Quanto à esperança, se alguma, essa é minha. De mim para mim. Ninguém a acende a não ser a minha própria chama. Sim, a que todos cobiçam para si, nas suas enormes solidões, dentro dos seus labirintos, por elas erguidos, tijolo a tijolo. Não, não basta nunca, mas terá de ser suficiente. E será.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2022
domingo, 4 de dezembro de 2022
terça-feira, 29 de novembro de 2022
Cão
Que as façam então, as travessias.
Eu não estou interessado em molhar os pés
e o meu pesadelo é morrer submergido.
Este lugar construí-o eu
durante anos e anos de desaprumo.
Decidi fincar os pés e dele não abdicar.
Não me vendam águas escuras.
Não me vendam água benta.
Não me vendam surdos slogans da multidão.
Não sou cão a ladrar atrás do camião.
Este cão já viveu as suas canzanas
nu meio das savanas.
É tempo de bocejar,
decidir não enfrentar o mar.
segunda-feira, 14 de novembro de 2022
Poema esquecido
Escolho o desejo e o sonho.
Sonho-te e invento o desejo,
desejo-te e realizo o sonho.
Tudo é transgressão do sentir,
do viver, do sangue derramado,
o poema esquecido, a luz no escuro.
É um quotidiano transversal, escorreito,
tudo como deve ser, tudo errado, pois claro.
Urge revolucionar a surpresa, libertar a brisa.
Matei uma flor para ta oferecer antes de morrer.
Eu? A flor? O dar? O negar?
Sejamos humildes. É a vida que é grande,
já o viver nem sempre é.
Não a deixes passar por ti.
Hoje é meu dia de vendar os olhos.
O meu presente é a vulnerabilidade.
Não vejo nada ou talvez veja tudo.
Surpreende-me!