quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

S/ Título

Não basta. Nada basta. Um ano acaba, um outro começa. As pessoas são apenas uma pessoa, uma jarra quebrada colada, com flores secas e encarquilhadas dentro. Quanto à esperança, se alguma, essa é minha. De mim para mim. Ninguém a acende a não ser a minha própria chama. Sim, a que todos cobiçam para si, nas suas enormes solidões, dentro dos seus labirintos, por elas erguidos, tijolo a tijolo. Não, não basta nunca, mas terá de ser suficiente. E será.

domingo, 4 de dezembro de 2022

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Cão


Que as façam então, as travessias.

Eu não estou interessado em molhar os pés

e o meu pesadelo é morrer submergido.

Este lugar construí-o eu

durante anos e anos de desaprumo.

Decidi fincar os pés e dele não abdicar.

Não me vendam águas escuras. 

Não me vendam água benta.

Não me vendam surdos slogans da multidão.

Não sou cão a ladrar atrás do camião.

Este cão já viveu as suas canzanas

nu meio das savanas.

É tempo de bocejar,

decidir não enfrentar o mar. 

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Poema esquecido



Escolho o desejo e o sonho.

Sonho-te e invento o desejo, 

desejo-te e realizo o sonho.

Tudo é transgressão do sentir, 

do viver, do sangue derramado,

o poema esquecido, a luz no escuro.

É um quotidiano transversal, escorreito,

tudo como deve ser, tudo errado, pois claro.

Urge revolucionar a surpresa, libertar a brisa.

Matei uma flor para ta oferecer antes de morrer.

Eu? A flor? O dar? O negar?

Sejamos humildes. É a vida que é grande,

já o viver nem sempre é.

Não a deixes passar por ti.

Hoje é meu dia de vendar os olhos.

O meu presente é a vulnerabilidade.

Não vejo nada ou talvez veja tudo.

Surpreende-me!

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

É que



A vida é feita de 
esperas ou de quimeras? 
É que eu só quero ser feliz.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Uma coleção de pedros II (ou life during wartime)


 Não chores, mulher.
Se te deram essas curvas,
foi para te fazeres à estrada.

And I still don't give a fuck about
Sarah L. Kerrigan and her bimby.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Uma coleção de pedros


 28.3.13

Ia dizer-te esta coisa muito séria:
o que eu quero da vida é ser boa mãe e foder bem
(não necessariamente por esta ordem)
o que vier a mais ou a menos, logo se resolve.


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Reflection


How ambar is your heart? How hard is your color?
The strings of spring have long snapped
and mud has now made residency in your boots.
Still, you walk where grass is still green.
Still you believe in the stillness of hope, 
for it is your clear horizon,
for it is what you make of it,
for it is foggy and damp,
and clouds do you company.
You must remind me the movement of thought.
How it circles as if in the circus of fear, 
where clowns are saints, yet nobody flies.
Do you rehearse death? Is it the lack of music?
Music is flowers, you the mortally struck gardener
realizing the smell of your own after death.
But you will already be gone and forgotten.
Forever preserved like piss, in the blood of trees.
 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Por falar em pássaros... (ou how does it feel to have your backyard furtivelly watched?)


São iguais os pássaros 
em qualquer lugar do mundo. 
Cantam aos amantes e cantam a saber 
a incerta esperança do acontecer.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Broken

 

There are no angels, 

only broken people with broken hearts, 

broken minds and broken souls

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Um certo estranhamento


 Um certo estranhamento com a debandada da vida. Um desnorte sem rumo ou sorte, um pé ante pé de longa distância. Diz-me por onde andas,  por onde passeias as imperfeições. Nunca nada será de tanto enigma, nunca tudo estará tão perto, na saudade.

sábado, 19 de março de 2022

Quando o entardecer era madrugada

Quando o entardecer era madrugada
e eram os nossos sonhos suspensos nos montes.
Eram neblina sebastianica na promessa
de um nunca vir. E era o nosso baile
o silêncio do percurso das nuvens e
a papoila aguardava sozinha o convite
para dançar. E tu estendeste-lhe o sol.
E o nariz da estátua cega pingava orvalho
e a minha compaixão pulsou
pelo seu coração de pedra.
Doce, doce, era o estarmos ali já
na nossa ausência, a sorrir da memória 
e dos grãos de areia. 

quarta-feira, 2 de março de 2022

Em dias


Em dias de tempestade, cria-se o colo possível. 
Em dias de colo, sonha-se o sol do dia seguinte. 
Em dias de sol, recorda-se a chuva no rosto.
Em dias de chuva, renasce-se por entre as lágrimas.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Sim


 Sim, hoje olho o céu e não vejo azul, não vejo nuvens, não vejo infinito. Vejo-te a ti como um vasto zepelim feito miragem a cobrir-me na lenta passagem de um dia que se recusa a terminar. É a casota dos pardais pregada na árvore perdida na imensidão do pinhal, perdido na imensidão de um canto da savana irredutível ao dia, na solidão ausente das estrelas ou da Lua. Fica a semente, qual bomba-relógio, da inevitabilidade de regressar ao lugar anterior ao primeiro passo.