domingo, 30 de agosto de 2009

Nada se leva daqui

Por entre insuspeitos obstáculos ao olhar,
insinuam-se surpresas às quais se tem de sorrir.
Nada se leva daqui, senão vislumbres e micro-perfeições.
Começa então o trabalho do pensamento, da imaginação,
para completar os espaços e tempos em falta.
E sorri-se, sorri-se com estes jogos de possibilidades,
com a facilidade em criá-los
e a felicidade com que eles retribuem.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Uma primavera

Uma primavera serpenteia
pelo corpo acima, a querer tocar céus nublados
e gotas de chuva na espera da libertação.
O sangue nunca se revela, com receio de coagular
para dentro das bocas e olhos fechados de quem passa.
De mãos dadas num agora sempre adiado,
no tudo que vai acontecendo e me nega o ser,
devolvo o pensamento, qual mangueira
deleitando com água a erva de um jardim.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Reciclagem

Passei por baixo do arco-íris em ruínas pairando estranho entre as nuvens. O forte cheiro a erva húmida accionou a máquina do passado, toda a alegria e ignorância de um instante agora perdido algures dentro de uma gota de chuva. Quem pode dizer se ao caminhar não a terei calcado? Mais tarde ou mais cedo, tudo nada mais é do que memória em reciclagem. Ao olhar para trás, lá no alto, apercebo-me que o arco-íris quebrado continua a ser belo, talvez mais agora, por ser único. Rodeia-me o som das flores a espreguiçarem-se. Respiro fundo e continuo o meu caminho sem mais olhar para trás.

Carícia

A palavra para hoje é resistir. Aprender com o tutano dos antigos carvalhos, absorto à passagem do tempo, sem nunca deixar de lhe sentir a carícia e escolher pensar serem os dedos de um sonho recorrente com medo de ficar sozinho. Já fui poética terra. Hoje sou forte madeira. Amanhã serei água invencível.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A palavra para hoje

A palavra para hoje é movimento. Não vale a pena tentar detectá-lo, pois trata-se de um movimento interior, como quem sente uma presença ao caminhar na noite. Dias, anos de penitência dissolvem-se na lentidão imperceptível e não há fechar de olhos que corte o fluxo do agora. Não queiras nunca tentar antecipar o que vem a seguir. É já outro dia. Ilusão é ter a certeza de ontem não se ter extinguido. Sente o movimento e sorri como se fosse um segredo de infantário.