quarta-feira, 24 de novembro de 2010

S/t

Penso por vezes nos monstros que me povoaram. Penso se alguma vez fui um para alguém? Penso no mal que fazemos uns aos outros, tantas vezes em nome de uma boa consciência. Penso na aparente inesgotabilidade da minha criatividade, essa parte de mim que por mim fala, de mim independente e que sem mim não existiria. Penso que o esquecimento pode ser uma dádiva mais real que o perdão. Perdoar é um estratagema da consciência. Afinal, podemos perdoar a quem nos mata? Esse tipo de perdão pertence à literatura. A única coisa que se pode realmente fazer é tentar não deixar os tais monstros à solta. Porque se assim não fosse, seria uma verdadeira carnificina à volta de cada um de nós. Os restos de um campo de batalha onde apenas temos a ilusão de ser o único sobrevivente. E aí sim, estamos condenados a contemplar a obra feita.
Penso por vezes nos rostos destorcidos, nos olhares e sentires enganadores... E fico contente por lhes ter sobrevivido. A minha luta não é odiá-los. É ir tentando esquecê-los.

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