Soube-me bem saber-te perto.
A viagem respirou fundo e depois bateu as asas
sem se importar que a noite havia chegado.
Era tempo de sonhar. Era tempo de reencontrar.
Aurora d'ouro inocente alastra pelo céu obscuro, aparta-lhe o escuro e as estrelas lá se vão em fila indiana porque assim foram sonhadas, talvez para melhor as contar. As sombras regridem sem que ninguém dê por isso, embora não saibam de onde vem aquela música longínqua, mas sabem sempre de onde vem a luz; pudera, é essa a vida delas: darem-se à luz. Em momentos assim, o melhor é não pensar em nada. Se o sol está a nascer, o melhor é ser como ele e nascer também. Ser o cheiro das flores que para ele se viram, ser o cheiro da terra húmida, o chilrear dos pássaros, lá ao longe a ecoar no pinhal...
Como quem assume um som que não ouve, caminho lado a lado com a saltitante sólida ilusão, conduzido pelas árvores laterais que pavoneiam suas tonalidades outonais. Algures lá ao longe, as margens confluem uma para a outra, sempre escapando à minha chegada. Adoro isso. O som afinal dentro de mim, o ponto de chegada a escapar enquanto caminho no aconchego destas margens eventualmente confluentes e a sólida saltitante ilusão que faz bater o meu coração.
Apenas porque às vezes tudo parece impossivel, intransponível... Parado, qual vela suplicando pela mais insignificante brisa... Quando tudo é pura suspensão, roçando a esterilidade... Então acontece, como uma nova cor, quando se julgava conhecer todas, como um banho de fé no espanto da vida. De repente, sai-se de um outro lado qualquer. E a rendição, doce, compassiva, vasta, que transforma o olhar, o sentir, torna-se o novo sangue de todos os dias ainda por nascer.
Quem te procura na noite oblíqua? Quem te queima teu fogo interior, catedral de sentires, pensamentos como segundos vertiginosos e... Respira fundo, olha para trás. Nunca corras quando a memória te ultrapassa. Depois, não olhes para a frente. Fecha os olhos. Quem te procura já te encontrou, assim, sem que disso te tenhas apercebido.