EM MANUTENÇÃO
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
A festa
A festa acabou. A festa dura para sempre. A festa acontece depois do acidente, não há sangue que aguente. A festa começou entre as flores e as bebidas sem nome. Todos para ali armados em deuses num pequeno Olimpo. Tudo a acontecer em câmara lenta, na voracidade canibal dos sentidos. Toda aquela chuva quente a convidar a nudez selvagem, elegíaca. A festa eram gritos, risos, era recreio, era a promessa de uma praia impossível. Música, dança poente. A festa acabou, na certeza de durar para sempre.
terça-feira, 6 de novembro de 2018
Mármore
Quando se está numa relação, está-se a 20%, a 50%, a 80%? Está-se a 100%? No seu melhor, está-se sem limites. Não há zonas reservadas. Há o que se dá e partilha e há o que não se dá e não se partilha.
Ninguém é perfeito. E o que se sente, por muito arrebatador que seja, também não é perfeito. Mas zonas proibidas é algo que não deve haver e muito menos serem impostas. No amor, existe medo e desconfiança. É um facto da vida. Se por um lado, isto deve ser aceite, por outro lado, não deve ser alimentado e fomentado. No amor, cuidamos mais do outro do que de nós próprios e fazê-lo é cuidar de nós próprios. Se não é isso que acontece, então não é amor, não é amizade. É mármore sem forma e sem escultor à vista.
terça-feira, 30 de outubro de 2018
Transcender
«É como se houvesse uma conexão profunda com outro ser humano em todos os seus níveis e dimensões. E talvez esteja aqui uma possível explicação para ter lutado sempre contra o deixar cair essa conexão. É uma coisa que se calhar não se explica, só se sente. Talvez quando olho nos teus olhos, vejo-me a mim, de certo modo. Devolves-me o meu olhar. Sim, comunicamos mais pelo olhar do que pela palavra.»
terça-feira, 16 de outubro de 2018
S/ título
...e agora que não consigo dormir porque não páras de gritar dentro da minha cabeça, vou tomar um dos comprimidos que me deste para dormir. Como é estranho as coisas que fazemos por vezes parecerem conversas com um «eu» futuro. Ou por vezes, fazemos a pergunta de um lado da fronteira e respondemos já do outro lado. Viver é como um interminável processo de partilhas, de quem fica com o quê e as alegrias e dissabores que isso provoca. Um processo de partilhas com nós próprios, com o resto do mundo e de outros para connosco. Nunca se sabe quando o mais pequeno gesto vai mais tarde adquirir uma dimensão maior apenas porque algo mudou. Desceu-se ou subiu-se um degrau, um passo mais e estamos do outro lado da fronteira e é aí que está o resto da vida, já não no passo anterior. Viver é pois o momento entre um passo e outro. Pousar o pé no chão é apenas a mínima pausa para respirar, olhar para trás, olhar para a frente e continuar a viver. E a seu tempo, os comprimidos terão acabado e a tua voz terá ficado tão baixa que deixei de a ouvir.
((Oversharing, my dear, is not honesty)
segunda-feira, 8 de outubro de 2018
Espaço e distancia
O espaço entre nós, a distancia entre nós. Espaço, distancia. Serão a mesma coisa? O espaço entre nós pode ser uma coisa partilhada. Estarmos no mesmo espaço, eu aqui e tu aí. Perto. Tão perto que eu posso estar dentro de ti e o único espaço entre nós pode estar a ser apertado pelas nossas peles suadas.
Já a distancia quer dizer que talvez haja espaço a mais entre nós. Eu estou aqui e tu estás ali, fora do meu alcance e eu fora do teu. Vento pode passar entre nós, oceanos, gaivotas, comboios, rastos de aviões. Distancia implica tempos diferentes. Eu tenho o meu tempo e tu tens o teu. Distancia, opções, decisões. Eu com as minhas e tu com as tuas. Que nos liga afinal? O espaço? Que espaço? O espaço de estarmos distantes, cada um a viver a sua vida? A distancia não liga, afasta. Queres ter a tua vida e eu quero ter a minha? Que nos liga então? Nada. Que fazemos no mesmo espaço então? Assumimos a distancia, abraçamos a distancia e vamos à nossa vida, a nossa respectiva vida, eu a minha e tu a tua. Cada um do seu lado, cada um no seu espaço. Cada um na sua vida, a sua vida que é sua e não do outro. Espaço entre nós? Não, apenas distancia. Fazemos dela o que quisermos. E o que fazemos é criar mais distancia, gerar mais espaço. Temos todo o espaço do mundo. Até nos perdermos de vista. Por fora e por dentro. Abraçar o esquecimento, abraçar o agora, abraçar as notas de rodapé com letra extra-pequena dos livros da vida de cada um dos quais somos únicos escritores e leitores. Ninguém tem tempo ou espaço para os livros dos outros. Usamos sim tempo e espaço para impingir o nosso livro ao outro. Livro pelas goelas abaixo. Obliteração literal de espaço e distancia. Comemos, digerimos e cagamos para dar espaço a mais um suculento capítulo. Da vida do outro. Por vezes, o mesmo capitulo. Viver é um perpétuo ciclo de reciclagem dos livros da vida....dos outros. Criar a ilusão que habitamos o mesmo espaço entre a maior distancia que pudermos ter entre nós.
sábado, 22 de setembro de 2018
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
A origem da incerteza
Os pequenos mundos por nós falados
constroem a origem da incerteza.
As palavras trazem dentro de si
outras palavras. Assim é
o não ser do ser,
assim é o prazer de
sofrer, a alegria de viver.
terça-feira, 18 de setembro de 2018
Possibilidades
Quando nos encontramos, sentimos necessidade de nos perdemos. Quando nos perdemos, a parte boa são as possibilidades que se abrem para nos encontrarmos.
sábado, 15 de setembro de 2018
Insanidade
Se o mundo enlouqueceu de vez, a que pedaço de insanidade me devo agarrar? Ao pedaço menos insano de ti? Isso não me salvará. Antes me infectará. A minha insanidade é o valor mais caro que possuo. Não abdico dela por nada. Por ela atravesso os dias na escolha da solidão. Porque de facto, Babel fala mais alto nestes tempos. Cada pessoa tem o seu dialecto e ninguém se entende. E neste desentendimento, é na mediocridade que se descobre território comum. Eu coço as tuas costas e tu coças as minhas. Apenas não desafies a minha língua ou eu a tua.Condenados a insanos rios de solidão, contruimos pontes de fósforos que ligam margens em chamas.
sexta-feira, 31 de agosto de 2018
A destruição do mundo
«E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor. Porque as primeiras coisas são passadas.»
Apocalipse 21:4
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Rir hoje
Não precisamos de rir hoje. Não precisamos de rir agora.
Não precisamos de rir para a fotografia.
As pessoas gostam tanto de nos ver a rir!
Mas não precisamos de rir hoje.
Hoje foi o fim de mais uma relação.
Esta foi longa, parecia ser a tal, mas acabou.
Não precisamos de rir hoje.
Não depois de apesar de nos sentirmos na merda,
ainda tivemos de esfolar os joelhos e dar cabo das calças
no tombo totalmente desamparado que demos. E depois,
com os nervos ainda magoamos o pé no pontapé que demos na árvore
que estava mesmo ali.
Mostrar os dentes para quê?
Acordamos tarde, não lavamos a porra dos dentes, e logo hoje
tinhamos de estar com o amigo com a mania das fotografias
e posta tudo o que fotografa. Aparecer sério? Não!
Caia o carmo e a trindade!
Oh, gosto mais de ti a rir. Estás triste? Está tudo bem?
NÃO! Apenas não sentia vontade de rir!
Sou exactamente a mesma pessoa.
Além disso, hoje foi dia de deixar de estar na ignorância.
Foi dia de saber mais do que desejaria, foi dia de tiro pela culatra.
Hoje foi dia de cuspir para o chão, temos pena!
Foi dia de cerrar os dentes e os lábios para não começar
para ali a chorar ou a gritar sem mais nem menos no meio da rua.
Hoje foi dia de não apetecer ligar a ninguém!
Que se foda toda a gente.
Que se foda todo o tempo que lhes dei
e todo o tempo que não me deram.
Não, não precisamos de rir hoje, pode ser? Ou é demais para vocês?
É demais para as vossas vidas de merda
e as vossas emoções de merda
a fazerem de conta que são emoções de merda.
E as vossas frases bonitas e frases lindinhas que não são vossas
e antes fossem, porque me fazem vómitos por serem tão charoposas
e tão absolutamente automáticas,
como se um pouco de óleo numa engrenagem se pudesse comparar
com a lubrificação entre as pernas de uma mulher com tesão por nós.
Isso é real. Pelo menos naquele momento.
Depois passa, como tudo passa.
Putas mal resolvidas que nos dão cabo da vida.
E claro, nós deixamos.
E depois rimos para disfarçar todo o estilhaçar interior.
Mas hoje não é dia de rir. É dia de dar pancadinhas nas costas
e de as sentir nas nossas. Sim, está tudo bem.
Tudo. Tudo mesmo? Até o que está mal? Claro, isso não se pergunta.
Melhor rir. Mas hoje não é dia para rir.
Lábios cansados, dentes cansados, hálito cansado,
como quando vinhas ter comigo sem te lavares.
Hoje não há risos nem carros na rua.
Hoje adoro ver os cães a conduzirem os seus donos,
apenas não venham na minha direcção! Não quero saber, nao quero
o meu cão a interagir com o vosso enquanto olham para mim a rir.
É suposto eu rir de volta? É que só quero que o meu cão cague.
E sim, saio para a rua sem saquinho de plástico
para apanhar a merda do meu cão.
Hoje é dia para ter saudades dos dias em que fumava,
em que era uma besta egoísta.
Apenas não me atirem o vosso fumo para cima de mim.
Principalmente se estivermos todos na esplanada,
enquanto os arrumadores de carros vão gritando
e recebendo as moedinhas
das gajas que saem do supermercado. As putas.
Depois ainda se queixam deles.
Foda-se, ao menos o café estava bom. O café estava de facto bom!
Isto devia vir no jornal, ao lado dos jogadores de futebol
e as celebridades do costume a rirem como se não houvesse amanhã.
Mas hoje não precisamos de rir, está bem? Podemos ter um dia triste?
Podemos ter uma expressão facial em conformidade?
Podemos ser reais?
Seja lá o que isso for. Saber o que se quer, saber o que se precisa,
saber para onde se vai não dá felicidade!
Deixem-se de escrever livros a dizer o contrário!
Sermos nós próprios e seguirmos o nosso caminho
traz consigo sempre uma certa solidão. Ponto final!
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
sábado, 4 de agosto de 2018
Nu lugar
Nu lugar onde estamos tudo é sempre perfeito
e tudo o que escrevi foi sempre para ti.
E quando te repreendi, aprendi abrandar e travar
antes de sair do lugar. Olho em todos os tempos,
e todos eles são aqui, nu sono
embalado da canela.
sábado, 7 de julho de 2018
Ilha
Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
John Donne, Meditações VII.
sexta-feira, 29 de junho de 2018
É assim
Um voo girassol de sol frontal na timidez das nuvens.
Bom olhar assim os deuses e poder continuar vivo.
Vivo no medo das alturas, não de voar.
Vivo para desafiar teu olhar de mármore.
Seja este o derradeiro duelo
e fertilizemos ambos a terra.
Novos girassois para o olhar do sol,
para o voo dos corvos do meio dia.
É assim o amor: um morrer.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
domingo, 27 de maio de 2018
Silence.
After all the laughter and all the pain,
After the cumpulsion of doing it all again.
all that remains is silence.
sábado, 12 de maio de 2018
Awakened
PEACE! peace! he is not dead, he doth not sleep,—
He hath awakened from the dream of life;
-P. B. Shelley
domingo, 6 de maio de 2018
Habitar a memória
Não há tempo perdido. Se assim fosse, porque existiria memória? Que há de igual entre os dois? É o facto de nunca permaneceram estacionários. Progridem sempre. Connosco, na vida. O único tempo perdido é aquele que não deixa memória. E a única memória que não merece ser recordada é aquela que se perdeu no tempo.
Portanto, o que é isto que vivemos agora a cada instante? Isto a que chamamos vida. Não a vida de respirar, de existir, de envelhever, mas a vida que vem de sentir, de saber.... de sentir que estamos vivos? Talvez tempo e memória gerando um entrelar perpétuo? Porque vida e morte não podem avançar no tempo senão entrelaçadas.
Uma vez pensei que morrer é passarmos a habitar a nossa própria memória. Consequentemente, o modo como vivemos proporcionar-nos-á habitar um paraíso ou um inferno.
terça-feira, 17 de abril de 2018
Shall I?
«Shall I tell you what I find beautiful about you?
You are at your very best when things are worst.»
-Starman, John Carpenter
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Regato
«Quem me dera que a chuva da noite viesse, e depositasse em tuas pálpebras a tempestade da terra. E quando abrisses os olhos, me pudesses ver no clarão dum relâmpago. E a tristeza húmida nascendo dos lábios, onde o insecto de ouro se revolve na saliva.
Quem me dera que a chuva viesse e nos diluísse um no outro. E pela noite corrêssemos como um regato em direcção ao mar».
-Al berto
Quem me dera que a chuva viesse e nos diluísse um no outro. E pela noite corrêssemos como um regato em direcção ao mar».
-Al berto
domingo, 18 de março de 2018
A parva eternidade
Que luz é esta tão maltratada pelos amantes?
Que fazem eles afinal senão caminharem para o final?
Não há eternidade, não há fé ou redenção.
Há o momento sem igual, reacção em cadeia a
encarcerar-nos alegremente na jaula do outro.
De boa vontade derrubamos vezes sem conta
o candeeiro tão fragil a gemer. De alegria, sei agora.
Candeeiro velho vandalizado pela intensidade
do instante para sempre. E ele dá luz, dá dor,
deixa o amor seguir seu curso. Determinado,
em reincidente casamento. Não há dor que aguente
momentos assim. Nem escuridão.
There is a light that never goes out.
E com ela tudo faz sentido. Até a parva eternidade.
Que sabe ela afinal do nosso instante
quase às escuras? Que sabe ela desta luz
nosso perfume, nosso segredo?
Que fazem eles afinal senão caminharem para o final?
Não há eternidade, não há fé ou redenção.
Há o momento sem igual, reacção em cadeia a
encarcerar-nos alegremente na jaula do outro.
De boa vontade derrubamos vezes sem conta
o candeeiro tão fragil a gemer. De alegria, sei agora.
Candeeiro velho vandalizado pela intensidade
do instante para sempre. E ele dá luz, dá dor,
deixa o amor seguir seu curso. Determinado,
em reincidente casamento. Não há dor que aguente
momentos assim. Nem escuridão.
There is a light that never goes out.
E com ela tudo faz sentido. Até a parva eternidade.
Que sabe ela afinal do nosso instante
quase às escuras? Que sabe ela desta luz
nosso perfume, nosso segredo?
quarta-feira, 14 de março de 2018
O que fica?
Estava sozinho ou estava acompanhado?
E a a sua companhia? Sozinha ou acompanhada?
Quando estamos com alguém, estamos sozinhos,
com alguém ou com nós mesmos?
E que comunicação é esta? Com quem falamos?
Com alguém ou com nós mesmos?
E quando tudo isto acontece, se acontece,
o que fica, se algo fica?
sábado, 10 de março de 2018
S/ título
A pequena luz, a pequena justiça.
Dizes-me para não me importar
e eu não respondo.
O tempo abusa da musa.
e nós da imaginação.
Que coisa é essa de ter a vida
toda pela frente?
Afinal, podem ser três anos
ou três segundos.
Vamos guardar a luz com o
escuro dos nossos olhares.
Dizes-me para não me importar
e eu não respondo.
O tempo abusa da musa.
e nós da imaginação.
Que coisa é essa de ter a vida
toda pela frente?
Afinal, podem ser três anos
ou três segundos.
Vamos guardar a luz com o
escuro dos nossos olhares.
A perfeição é a nossa natureza.
A imperfeição é a nossa humanidade.
quinta-feira, 1 de março de 2018
domingo, 28 de janeiro de 2018
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
Ainda
É incrível o que fazemos uns aos outros, o que colocamos nas costas uns dos outros. Nos olhares, feridas e almas uns dos outros. A erosão, a agressão, a básica e nua violência. E fazemo-lo às pessoas que gostamos de ter perto de nós, com quem criamos boas memórias e laços de cumplicidade. Atravessamos esse campo de batalha e não somos mais os mesmos. Não nos reconhecemos dentro de nós e não reconhecemos o outro. Somos fatalidades de guerra. E como se sobrevive a isto? Pois ainda não cheguei a essa parte. Sei que estou vivo e sei que me doí estar vivo. Talvez comece por sentirmos que ainda estamos vivos.
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