quarta-feira, 31 de março de 2010

As palavras por nascer

Não é no teu olhar que te reconheço.
Não é no cabelo de mulher selvagem.
Não é no rir de menina travessa.
Não é no corpo que apenas sonho,
no cheiro que dele se evapora.
É em algo muito diferente
que te reconheço: na palavra pensada,
na escrita sentida, no sonho por vir,
no que está em penitencia em tua cabeça.
Vai e entrega-te a teu próprio sentir.
Deixa teu cheiro, deixa tua marca,
deixa tua essência. Esfrega ela em nossos rostos.
Teu grito vai acordar os indiferentes.
Teu cio vai aquecer as palavras por nascer.
Nada será mais igual. A não ser, talvez
aquilo que sempre foste. E que és.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Aqui no jardim

Totalmente fora de controlo os vultos em volta de mim.
Aparecem, desaparecem e no entretanto constroem vidas
para o meu olhar de espera. Como realizamos o truque
de ocuparmos o nosso tempo e espaço?
Abrimos as mãos, deixamos fugir o sentir.
Aqui no jardim, o sol já se pôs e nós brincamos às escondidas.
Onde te meteste, corpo ausente?
Onde te escondeste?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Aurora

Vou desvendar o cheiro do céu da manhã.
Vou para lá voando no sono breve de um sonho.
E tu virás comigo, pois és o dia que nasce,
a noite que se esvai.
O meu voo na calmaria do vazio é acompanhado
pelos teus segredos de chocolate guardados
pela ave a meu lado. Ela guarda os segredos,
eu guardo o coração.
Ela guarda teus medos
para os largar longe,
bem para lá do horizonte.
Eu guardo tuas alegrias
e junto com as minhas,
faremos um monte,
onde dançaremos
na aurora do teu olhar.
Deixa-me só chegar...
Deixa-me só pousar...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Para dar sorte amanhã

Se eu escrevesse poema, seria para dizer que teu olhar
tem-me a mim dentro e que quando olho o mundo
pelos teus olhos me olhando acredito
que afinal me vez como te vejo:
algo apenas sentido que não se ousa explicar
com medo de quebrar...
Se eu escrevesse um poema,
seria para falar das estrelas no teu cabelo
e como me deito e fico olhando para elas,
pois é um céu que não me faz sentir
nem pequenino nem só.
Se escrevesse um poema que fosse
seria de certeza para ti.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Algo para dizer

Se hoje tivesse algo para dizer,
seria de pedra para pedra,
na cumplicidade da surdina,
do frio do toque, do peso da idade.
Hoje esqueço a vontade,
deixo-me estar no estar.
Talvez alguém por mim passe,
me pegue e atire ao mar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O meu poema mais feliz

Do céu azul, de pés de menina voando,
de luz remexendo meu cabelo,
da canção no rádio e nos lábios cantando.
Na memória de algo assim há muito tempo,
do sabor familiar da comida favorita.
Do céu estrelado à noite e da minha
pequenez olhando... Sonhar
alcançar o infinito dentro de mim.
Este é meu poema mais feliz
porque o fiz assim
ao sabor da brisa,
ao sabor do sabor...
De ser.