domingo, 30 de novembro de 2008

Excedentes do tempo

Não estou aqui. Vagueio por excedentes do tempo, corredores laterais, percursos secundários. Este não pensar vai construindo pedra a pedra uma passagem para lugar nenhum. Vou esquecer-me de como cheguei até aqui, alimentar-me de amnésia e libertar a palavra que puxará outra palavra. De um emaranhado de possibilidades que ainda não existe, surgirá esse pseudo-messias que é o encantamento de me saber intimamente aqui.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Limbo

Estou de fora, olho para dentro.
Espanto-me.
Estou dentro, olho para fora.
Entristeço-me.
Continuo e procuro uma visão total.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Lágrima

Há uma imensa tristeza em se estar triste. Como dizia o Sr. Lennon: «É solitário estar-se só». Pensamentos claros e directos, que nada têm a ver com o percurso que uma lágrima pode ter no rosto. E como claros são, nada mais fazem a não ser acentuar aquilo que os originaram. Um ciclo vicioso, ou uma reacção em cadeia, talvez.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Para ti

Escondida te vejo
bem longe dentro
do meu coração
na cidade que desabito.

sábado, 15 de novembro de 2008

Presença da luz

A escuridão, como doce veludo feito céu de chumbo recusando a entrada ao amanhecer. No solo, as sementes recolhem-se no seu esquecimento de não existir. É preciso imaginar a luz. E imaginando, ser a luz e na inconsciência de ser, varrer toda a cinza do horizonte, deixar o tempo mexer-se. Aí então, essa coisa negra chamada esperança irá brotar do novo solo, numa confirmação exacta da presença da própria luz.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Intimidade

A intimidade de se partilhar o que se é, o que se sente. Nela não cabem medos, inseguranças, sombras. A intimidade é uma manhã de Verão, brisa envolvendo o suor dos corpos, a plenitude das almas, os pequenos nadas, as cumplicidades. A intimidade é como cada segundo fugidio, mas não tem tempo, é linguagem feita doce memória.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Suspenso no ambar

Tenho um pensamento suspenso em âmbar
Filas de ciprestes e o cheiro de magnólias.
Céu cinza a raspar-me a cabeça,
A entrar por dentro dos muros graffitados.
Nada é como dantes a não ser este pensamento
Aprisionado no agreste agora.
Basta imaginar um pouco e sentir
Que nada realmente muda
A não ser o olhar.

Ponderar a ausência

Bem-vindos ao momento de ponderar a ausência. Está-se em cima do monte, sentado, o pôr do sol a exibir-se à frente dos olhos e a dança dentro da cabeça nada mais é do que aquilo que não está lá. Temos de nos colocar para lá do horizonte, pegar fogo com o próprio sol e iluminar a abandonada silhueta em ponderação, os pensamentos engarrafados e atirados ao mar com seus pedidos de socorro dentro. Na melhor das hipóteses, esquecemo-nos, não tanto porque estamos lá, mas que estamos lá.

domingo, 2 de novembro de 2008