quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Pensamento para 2008

Chorar, respirar,
renascer, sentir,
desfolhar o vento
no interior carmim das pálpebras.
Renasce o sonho
e tudo se revê, se reencontra
pela primeira vez.

22-12-2007

Tenho sorrisos na ponta das lágrimas
e o sal da brisa mistura-se no sonhar
ainda por parir.
Assim é este meu momento caracol
onde o som das ondas dança
ao ritmo da batida de meu antigo coração.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Momento

O ar está quente e o ritmado som dos grilos parece torná-lo ainda mais. Sente-se o cheiro verde da terra e o som ocasional dos pássaros atiça uma sensação que não é logo identificada. Uma sensação de cores mais vivas, de tudo se desenrolar mais languidamente. Os raios de sol por entre os pinheiros, como se fossem código morse acariciando a pele. Num instante que se vai desdobrando, há um gradual aperceber-se que estar ali é perfeição. Que coisa estranha de sentir. Mas sim, as nuvens já se haviam dissipado e o mundo era azul. Há ainda toda uma vida para viver. E tudo vai correr bem.

Sabias?

Contingências das almas jovens, serem inquietas, mas não são menos sensíveis por isso e serão certamente mais luminosas. O mundo necessita delas, sabias? O mundo e a sua alma anciã precisam de ser iluminados por travessas faíscas na longa noite. Acredito que é por isso que existe orvalho ou porque o amanhecer tem sempre um cheiro como nenhuma outra parte do dia. Talvez sejam as utopias que vão dormir ou o limbo entre mundos que se abre devagar como uma concha e nos presenteia com mais alguns dos seus medos. Ou então, talvez seja a matéria do sonhador que chama pela alma para que ela corra depressa para seu mortal casulo. Seja como for, tudo faz parte do grande desígnio da Natureza.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O sorriso da minha ferida

Inebriantes são as miragens. Fresca é a água que nela imaginamos. A eternidade do momento acontece quando o tempo que passa é o tempo do amor, apenas saciado com o sal da pele amada. Tudo é mais real pela simples razão de não existir e o doce futuro que não vivi, deixou rugas no meu rosto e mais brancas no meu cabelo. Mas agora quero este instante, sentir-lhe a lâmina penetrar meu peito, quero dar-lhe o meu sangue, toda a mágoa regenerativa se esvairá no sorriso da minha ferida. Quero olhar à minha volta e nada mais ver do que o deserto e lá ver apenas o que lá estiver.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Crescer

Crescer, quando ao crescimento se resiste, é um processo doloroso. Mas como abrir a mão das certezas acumuladas ao longo de anos de existência? Há que ter consciência, cultivar um espírito aberto. Se uma ideia, uma noção melhor do que aquela que se tem, pelos ouvidos entra, então há que desistir da nossa cristalização, da nossa certeza interior e abraçar a nova. É assim a mecânica da evolução intelectual: estar consciênte da necessidade da reciclagem daquilo que interiormente faz de nós o que somos, num constante processo evolutivo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Elogio da fé

Lidar com o invisível…Diz o Principezinho: «O essencial é invisível aos olhos». Como sabemos então o que é «essencial»? Sentindo. Mas isto levanta uma questão: no filme «Contacto», perguntam à personagem principal, que é alguém de espírito empírico, racional e cientifico, nada religioso, se ela amava o seu falecido pai, ao que ela responde que sim, claro. Então pedem-lhe para o provar.
Sentimos dentro de nós, pela manifestação da química cerebral, que estamos num estado de apaixonamento, que existe alguém importante para nós, que desejamos… E por isso não necessitamos de prova sobre algo que nos é interior, que sentimos. Mas como acreditamos quando alguém nos declara seu apaixonamento? Acreditamos? Duvidamos? Acreditamos porque precisamos de acreditar? Acreditamos no outro porque nele reconhecemos aquilo que nós próprios sentimos, agora ou no passado? Acreditamos porque temos fé no presente e no futuro?
A fé é a ponte. Não vemos, não apalpamos, no entanto algo dentro de nós diz-nos que é real. Sempre foi assim e ainda que só para mim, não é por isso menos real.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Contorcionismos


1
Contorcionismos
na penitência dos doces desejos
de mil cores e sabores.
No tactear das estranhas dobras
encontra-se resolução,
uma força desfalecida dos céus
molhados de felicidade.
Contorcionismos
no serpentear do auto-segredo.
Não há renascer que não se queira.
Escrevem-se as palavras feitas cinza,
e delas eleva-se a beleza estranha de ser.

2
Verde sorrir com aroma de bebé
deriva dos picos das folhas da erva
nas palmas dos pés da recordação.
Verde peito por dentro respira
ar do Verão e revive-se
o beijinho ainda a saber a piscina.
Sorrir aroma dos pinheiros
amanhã irei ser grande
e meu sorrir será maior
assim como a proximidade do sentir.

3
Vem, minha irmã,
voar com as asas
das mais inocentes memórias.
Como cresce um estranhamento interior,
qual fome informe debaixo da pele
a querer sair.
Rezamos esta espera
que é fado do que nascemos.
Não tarda, teremos pernas para correr.
Não tarda, teremos pernas para correr.