segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Se

Se eu fosse um cisne, os humanos olhariam para mim e veriam meu porte nobre e gracioso. Se eu fosse um tigre, sentir-me-ia cada vez mais só a cada ano que passa. Se eu fosse uma andorinha, voaria para zonas amenas e minha voz recordaria sempre a alguém a sua infância... Se eu fosse uma onda, viveria forte, determinada, até me extinguir na praia. Se eu fosse um sonho, teria as formas e as cores de quem me sonhasse. Mas eu sou eu, nada mais. E eu...Chegarei onde quero chegar, mais lento que uns, mais rápido que outros, mas cada vez mais, indo por mim. Haverá cruzamentos...Uns doces, outros amargos. Os amargos, como flores sem água, secarão; os doces crescerão como robustas árvores de raiz profunda. Mas entre uns e outros, terei sempre de começar por bastar-me a mim próprio.

domingo, 20 de janeiro de 2008

O fim do momento


Nada receies. O medo perturba o vôo.
Perto do sol vagueamos.
Perto do sol num entardecer sem distância.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Silhueta

Cai, amor, mas cai para cima.
Passa por mim veloz,
não te detenhas por meu sentido estacionário.
Ao meu jeito, caio também.
Cai como um foguetão
que tem como missão
furar o céu.
Eu verei tudo daqui,
deste bocadinho de montanha.
E quem ao longe me vir,
poderá não entender a compaixão e o amor,
mas reconhecerão certamente
a silhueta de um sonhador.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

The blue dancer

Look how he dances, so within himself,
so unawhere of all surroundings.
He dances to the sound of a beating heart.
Maybe it is his own, maybe it is another,
maybe it is the beating of the whole world...

sábado, 12 de janeiro de 2008

Caminhos cruzados

Esta noite dormimos.
Dormimos o sono das almas
e elas nunca dormem.
Dormimos o sono das estrelas
E elas não dormem,
iluminam a noite com seu ressonar radiante.
Esta noite a minha vigília
é para ti. E eu velo pelo teu sono
e choro contigo as lágrimas
pelos caminhantes cansados
que pararam para descansar.
Depois, quando acordares de teus mil sonhos,
quero ver-te sorrir e eu sorrirei contigo.
A vida é afinal um doce e ténue respirar
nossos caminhos cruzados.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O meu lugar

Onde é o teu lugar? Perguntas tu. O meu lugar é dentro de mim. Dentro de mim há todo o tempo, todo o espaço. Brinco com eles, prego-lhes partidas, até lhes passo rasteiras, só para os ver erguerem-se de novo. Dentro de mim há, como sabes, amor, tristeza, alegria, determinação, esperança. Há todo um céu de estrelas, todas elas sem nome, mas todas reflexos do meu coração. Dentro de mim existem coisas que eu nem sabia que existiam. E que delicioso estranhamento isso causa dentro de mim. Dentro de mim, existe tudo aquilo que nunca existiu nem nunca vai existir. Existe a minha imaginação, o meu sonhar. Existe o meu desejo de me dar. Tudo isto e mais existe dentro de mim, faz de mim o meu lugar, e aqui dentro de mim, se por acaso me sentir um pouco sozinho, sei que te tenho a ti, para estares aqui comigo. Portanto, quando me perguntares onde é o meu lugar, eu responderei que o meu lugar é o sítio onde passeias, brincas e exploras, sem nunca teres hora de regressar.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

E se um dia

E, se um dia fosse, depois de uma noite
(muito breve porque estava no jardim),
quente como a ideia de primavera,
réstia de uma memória de infância,
e nada mais restasse da véspera
a não ser a incerteza de ter estado contigo.
Mas depois lembrei-me:
pequenos lapsos luminosos
numa dança ritual esfumando-se
devagar, numa espiral ascendente.
Nós olhávamos, olhávamo-nos,
e todo o calor imaginado…
Ali estava,
na calma intranquilidade
dos múltiplos murmúrios da areia.
Não, areia não era, mas o fluxo dos desejos.


Dentro

Aquele que sonha o mundo e depois se abandona na sensualidade do canto de si mesmo, deve escrever sem olhar para fora de si. Tudo o que precisa está já dentro, em perpétua gestação de criatividade. Romanceará a viagem, não o destino. E no canto de si mesmo, encontrar-se-á na palavra, sem olhar para fora de si. E por todo o lado uma voz será sentida.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um olhar inocente

«A verdade é que sem dor não se pode ambicionar viver plenamente. E o vazio? Banal dizer que é a origem de tudo. Quantas vezes desejei o vazio para parar de pensar, para me reinventar. Um criador sempre deseja um olhar inocente.»

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Amanhecer

Um ar sonhador
sonhando as coisas futuras
escutando as passadas
num presente benevolente
que é presente para os outros
por simplesmente existir.
Um ar sonhador
não pára para sentir dor
antes desbrava os mistérios
da doce brandura do ser
e sua doçura ilumina sempre
um novo amanhecer.