Não havia maneira de o encontrar. Foi tentando recordar sistematicamente, dia a dia, cada vez mais para trás, sem que o conseguisse encontrar. Fartou-se de pensar, passou horas de olhos fechados em esforçada concentração, folheou páginas de palavras doces, páginas de palavras amargas. Começava já a duvidar se eles tinham mesmo acontecido, aqueles beijos dados e sorvidos como delícias de sentir. Até que, quase por acaso, num papel insignificante, escrito a lápis, ali estava o registo do último beijo dado com amor... Não era fantasia, tinha acontecido mesmo, muitas vezes até. O que aquele tinha de especial era o facto de ser o último. Por uma poeira de instante, foi real, foi agora de novo. Todos tinham sido deliciosos, apaixonados, mas havia dois especiais: o primeiro e o último. E finalmente ali estava o registo do último beijo, como que para validar a memória, como se ajudasse a desbloquear toda a mágoa nublada cobrindo a memória. Pensou no beijo, pensou na noite em que, ainda com o sabor dela na boca, escreveu os eventos desse dia. Ela já ali não estava, mas por entre as lágrimas tiranas e lentas, ele havia finalmente reencontrado um pouco do que perdera.
sábado, 14 de junho de 2008
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