quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Deixar de existir

Existe caos nas mais pequenas manifestações da vida. Não quero sequer respirar-me ou até deixar-me dormir. Invejo o futuro e todas as suas possibilidades. Quero aniquilá-las uma a uma até nada existir no sonho que não vou sonhar. Algures, sempre por entre um qualquer desatento instante, insinuar-se-á algo. Talvez um inaudível suspiro. Talvez no dia seguinte eu acorde e sinta devagar invadir-me todo o amor, toda a esperança e criatividade. O que desejo agora? Deixar de existir, O que gostaria que acontecesse? A possibilidade de renascer, mesmo depois de a ter espezinhado além de qualquer reconhecimento.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Horizonte vertical

Olhar para cima quando se está no ar
é olhar para onde calhar.
Caminha esse horizonte vertical
e imagina o pensamento a fluir
na escada de palavras em espiral....
Sente a suspensão das horas,
o poente vai parindo sua nascente.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Impromptu

Algumas canções não prestam mesmo. Apagámo-las e o que fica mais harmonioso se torna. Não interessa pensar muito no assunto. Podemos dar, podemos receber, é uma opção nossa. Cabe aos outros apreciarem ou apropriarem-se. Por muito que fale, nunca vou realmente dizer tudo e muito menos o que sinto, embora ache que sim. O tempo é apenas o tempo de estar aqui. É como um jogo de aposta: é-nos concedido um determinado espaço de tempo e depois temos de lidar com o que vamos fazer com esse tempo. Podemos fazer o que quisermos, no alinhamento que escolhermos, só não sabemos quanto tempo temos. Portanto, o desafio é tentar fazer tudo o que se deseja antes que o tempo se acabe. As canções que escolhermos não as podemos apagar, só as podemos deixar para trás.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

S/t

Penso por vezes nos monstros que me povoaram. Penso se alguma vez fui um para alguém? Penso no mal que fazemos uns aos outros, tantas vezes em nome de uma boa consciência. Penso na aparente inesgotabilidade da minha criatividade, essa parte de mim que por mim fala, de mim independente e que sem mim não existiria. Penso que o esquecimento pode ser uma dádiva mais real que o perdão. Perdoar é um estratagema da consciência. Afinal, podemos perdoar a quem nos mata? Esse tipo de perdão pertence à literatura. A única coisa que se pode realmente fazer é tentar não deixar os tais monstros à solta. Porque se assim não fosse, seria uma verdadeira carnificina à volta de cada um de nós. Os restos de um campo de batalha onde apenas temos a ilusão de ser o único sobrevivente. E aí sim, estamos condenados a contemplar a obra feita.
Penso por vezes nos rostos destorcidos, nos olhares e sentires enganadores... E fico contente por lhes ter sobrevivido. A minha luta não é odiá-los. É ir tentando esquecê-los.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

No devir de mim

Flutuo. Flutuo no devir de mim, sem amarras a prenderem-me, a manterem-me rente ao chão, quando a minha imaginação e voz apenas desejam caminhar no espaço. Aqui não há portas fechadas. Encontro-me face a face com a minha própria divindade e essência. Daqui tudo parece tão sem importância. Nada como vislumbrar a real importância das coisas e como é facil mergulhar nas subtilezas das máscaras. Desafortunados aqueles que vêm um rosto onde está uma máscara olhando-os fundo nos olhos até ao coração. Flutuo no caminho que é o meu, na vastidão das possibilidades. Não é o mundo que é meu. É o universo inteiro.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Enfim

As máscaras nocturnas esvaem-se na ausência dorida
de não saber que se julga saber. Rostos do mesmo rosto
sucedem-se quais dias de decepção ainda colorida.
A realidade tem muitas faces, dizem… Uma por cada
gota de inocência evaporada nos olhares vazios.
Máscara após máscara vamos amando o amor
debaixo do amor debaixo do amor,
sem saber que afinal é desamor.
Desamor ligado à antecipação da dor.
Um dia, enfim, desabrocha uma flor
porque a esperança apazigua o temor.

sábado, 23 de outubro de 2010

Um outro nível de existência

Toda a ruptura simboliza, ao manifestar-se, a dualidade de todo o ser: tudo o que é vivo ou construído pode ser morto ou destruído, ou mais do que isso, trás o germe da sua própria destruição. In media vita in morte sumus (a morte jaz no coração da nossa vida). Vixnu e Xiva, deuses da destruição, não são mais do que dois nomes de uma única e mesma realidade. É a alternância da integração e da desintegração que significa a ruptura, marcando principalmente a fase negativa. Mas esta negação é a condição dum renascimento e de uma renovação. No plano material, dominar ou domar uma ruptura, uma infelicidade, é aceder a um outro nível de existência; o deleite moroso da ruptura, ao contrário, coloca a pessoa na via da regressão e da involução.

-O livro dos signos

domingo, 17 de outubro de 2010

Ton cours

Voie lactée ô soeur lumineuse
Des blancs ruisseaux de Chanaan
Et des corps blancs des amoureuses
Nageurs morts suivrons-nous d'ahan
Ton cours vers d'autres nébuleuses
-Apollinaire

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Meia luz

Ah... Diz-me o que é essa meia luz dentro do teu olhar. O céu da noite nunca é assim tão escuro... E tem as estrelas. Algumas caem com as tuas ocasionais lágrimas e chamam-lhes cadentes. Eu chamo-lhes compassivas, chamo-lhes saudosas... Porque não resistiram a regressar a casa. E tudo o que basta é esse momento luminoso de rasgar a atmosfera e não mais estar lá. E no momento de olhar já passou. Diz-me então que luz é... Para que eu sinta esperança numa qualquer eternidade escondida... Uma esperança escondida entre as flores de um jardim.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Uma espécie de vazio

De essência em essência se constrói uma espécie de vazio à volta da mais sonora invisibilidade, pois no escuro tudo perde validade menos a imaginação e a capacidade de ver. Os pedaços recortados de céu azul com nuvens somos nós a sonhá-los no tecto, como se fossem a deliverança falsamente ambicionada. De retórica se constrói afinal a visivel essência.
-Dás-me luz? -alguém pergunta. Nada afinal está de facto perdido.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dream withim a dream

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.
I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep - while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?
-Edgar Allan Poe

domingo, 19 de setembro de 2010

A árvore oca

Não se sabe como foi acontecendo. O tempo passou ou talvez tenhamos estado imóveis com ele. E também não terá sido o caminhar no cimo dos montes quando nos sabiamos observados à distância. Sim, mestres somos em construir imagens bonitas, absortos da presença dessa criatividade.
No longo corredor, de cada lado coleccionamos quartos vazios. Diz-me de onde vens e eu digo-te para onde vou... Ou talvez não. O vai-vem incessante num caminhar sempre a ser apagado. Mas quando por ela passamos, não a vemos. Há uma sabedoria antiga irradiada no ar para quem parar e a desejar apanhar. Nunca ninguém o faz. Mas todos se queixam por ninguém o fazer.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

To all love lost

Sky green paradise, oh isn't it nice?
Coming my way not once but twice.
Got a feeling I belong in a sea of longing
where no one is missed,
where faces and places never were.
The soft skin radiation gets it's strenght
from an imaginary sun, and the sunflower,
if there ever was one, is nothing but a dreamer.
And dreams only open at night.
But it's alright. No light, no fright will get here.
Here is nowhere and i swear
I saw a glimpse of you coming from afar,
but it was only a lonely falling star.

sábado, 11 de setembro de 2010

Perder, dizer

-Não te quero perder...
Sussurraste-me tu com a urgência dos apaixonados. Vinte e quatro horas depois, tinha-te perdido, só não o sabia ainda. Noventa e seis horas depois, não me tinhas perdido ainda, mas tinha-me eu perdido para ti. E sabia-o. Ambos perdemos e nos perdemos um pouco nessas horas.
O que significa perder? O que significa dizer? Ou mesmo ouvir o bater de um coração e saber que ele bate assim um pouco por nossa causa? Não dou muito valor às palavras, disseste-me tu um dia e afinal...Era das tuas que falavas.
Quero voltar a sentir que tudo vale a pena. Não quero perder-me, quero sentir que me encontro. Quero acreditar no valor das coisas, dos sentires do sentir, dos dizeres do dizer. Quero voltar a acreditar nas possibilidades de mim e assim, acreditar nas possibilidades deste momento, do porvir. E em ti, quem quer que sejas.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

With nothing on my tongue

Baby I have been here before.
I know this room, I've walked this floor
I used to live alone before I knew you.
I've seen your flag on the marble arch
Love is not a victory march
It's a cold and it's a broken Hallelujah

There was a time you let me know
What's really going on below
But now you never show it to me, do you?
And remember when I moved in you
The holy dove was moving too
And every breath we drew was Hallelujah

I did my best, it wasn't much
I couldn't feel, so I tried to touch
I've told the truth, I didn't come to fool you
And even though It all went wrong
I'll stand before the Lord of Song
With nothing on my tongue but Hallelujah

-Leonard Cohen

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Estes dias

É invisível a minha escrita estes dias. Escrevo por sentires dispersos e sentires em linha recta, tão tranquilizadores. Mas os meus sentires preferem sentir, não escrever. Preferem caminhar, não sentar. A imaginação, mesmo sentada, imagina. O sentir sentado tende a imaginar o que sente em vez de sentir. E é assim. Estes dias, a minha escrita rodeia-me, mas não a vejo. É invisível mas sinto-a.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Às dores

Como se o cansaço pudesse ser proporcional à alegria de viver.
Às dores, desenhei-lhes asas
e deixei-as voar para longe de mim.
Dizem que são escadas de crescimento.
Não gosto delas por causa disso.
Foram-se. Não deixam saudades. E um dia,
o derradeiro vestígio delas será muito desatentamente
o tal crescimento.
A elas digo: tenho outras coisas em que pensar,
outras coisas para sentir.


Às iminentes dez mil visitas a esta minha viagem chamada Margens Confluentes, o meu mais sentido obrigado por aqui se terem detido um pouco, de vez em quando. Este lugar partilho-o com voçês desde o primeiro dia. Voltem sempre.

domingo, 22 de agosto de 2010

A ponta da corda

Como se contasse as células do meu corpo e cada uma me revelasse uma verdade diferente. Que fosse então contar estrelas, negligenciando a visão periférica, porque afinal ninguém deseja sentir-se insignificante. Depois, quantificar a energia contida em todo o amor de uma vida e voltar sempre ao zero e concluir que é nada, não imaginando o ser tudo. Mas agarrei a ponta da corda. Isso eu sei.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ponderando a ausência

Ponderando a ausência, como se o calor do teu corpo ainda o desenhasse nos lençóis. Foi tudo rápido, assim com a lentidão dos entardeceres de Verão. Só que é Inverno e já não estás aqui. Enquanto pela rua caminhas, ainda sentem tuas coxas o toque dos meus lábios, de minha língua? Oh, se a chuva caísse, para abrandar o frio e nos unisse no nosso amor por ela? A noite vai ser longa, a criatividade não vai chegar nem o sono… Encontramo-nos amanhã, talvez? Mesma hora, mesmo local?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Terra da noite

Terra da noite no brilho cadente da estrela.
Tudo se ilumina no breve momento
de respirar fundo.
Nascer do dia, distante ainda,
trará o lilás das flores altivas.
Sombras apaziguar-se-ão.
A vez delas dormirem chegou....

sábado, 31 de julho de 2010

Vem aí

Azul brilho de sol bate na vidraça da janela
e sorri ao meu sorriso de ti na dança das asas da preguiça.
Penso no castanho do teu olhar.
Ele voa em asas azuis, descobre o tecto das nuvens.
Elas sentem, assim como as cores.
Olhar distraído, olha-me, olha a luz.
Sente cheiro de mato, de flores
onde pousara uma libélula ausente.
Depois recorda o que por aí vem,
feito ribeiro transbordado de sentimentos coloridos.
No bordado do desejo do Verão que vem...
Assim, uma noite, sem avisar
a dança cumpre-se meiga como o antigo luar...
Ele repousará devagar em teus braços,
na doce doçura do abraço.
Juramos sentir que é terno o eterno
e o agora de teus lábios é afinal para sempre.
Do regaço, do fechar os olhos...E acordar.
A manhã vem aí.

domingo, 25 de julho de 2010

O saber

Abstração no teu gesto.
A ilusão de veracidade como jogo de espelhos.
Assim respira-se melhor.
Não seria capaz de apontar um único momento.
Afia-se a sensação durante os passos
no tudo poder ver,
mas nunca se está integrado no caminho.
Facil. Facil como respirar.
O saber intimamente que nos vamos cruzar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Curvatura do sentir

Dança suave a velocidade de dias quentes, sem nada a agarrá-los ao depois a não ser a inevitabilidade de ser em movimento. Ele faz dos dias colagens onde se pode deambular viajante de tempo. As memórias são canções esquecidas. Na escuridão de planície, agarra-se o que se pode e sonha-se com a curvatura do sentir.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Canção escondida

São os dias a fazerem o pino na arena do circo dos tempos. Palavras metronómicas sem fuga possivel seguem cegas em fila indiana. Para onde? Para o fundo da garganta da música que não existe. Felizmente dou por mim dentro de um suave voar e tudo parece distante ao ponto de não ter sequer de pensar. Posso assim deixa-me render à canção escondida deste coração planar, que mesmo sem o pensar, abandona-se no sentir.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Discorrer

Perdidos não estamos. Escolhemos não ver, não sentir para onde vamos, enquanto distraidos estamos a julgar ver, sentir outra coisa qualquer. Não há segredos nem enigmas. Há caminhos a desaguar num único lugar. Estes caminhos são como o tráfego de almas em nosso redor. Porque afinal, tudo na Natureza tende a repetir-se. É nos padrões que podemos encontrar o medo e a felicidade. Viver pode ser um labirinto simples ou um labirinto complicado. Depende da quantidade de vezes por cá já passamos. Não há atalhos a não ser o desejo de aprender e de ser naturalmente compassivo. Acabamos sempre por ver.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O sentido do sentir

A noite veio e falou-me de ti. Disse que virias na brisa da voz dos sonhos. Disse que o teu toque me apaziguaria a dor. E assim foi. Enquanto dormia, apareceste e sussurraste à escuridão para se afastar. Meteste-me tua mão no peito e foi como se o ritmo do existir tivesse ganho sentido. Quem pode explicar o sentido do sentir senão sentindo?

Dança da noite e do dia

Assim se faz a dança entre a noite e o dia, de segredos inventados e palavras partilhadas. Assim se faz no silêncio de uma canção ainda por nascer. Pode o dia ser mais azul? Pode a noite ser mais estrelada? Pode o sentir revelar-se constelação de cumplicidade? O momento vai planando para trás e para diante, no voo de esquecer o rasto e de acender a direcção. E no mais suave dos toques revela-se o momento de criação. Nesta planície, podemos adormecer e o sonho será o que está a acontecer.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

No aquecer

Aí vem o Sol, senti eu caminhando no veludo azul das nuvens, Sorri por tudo ver ao contrário e tudo parecer direito. Contei histórias a mim mesmo e embalei-me contando-te cabelo a cabelo... E tu sorriste também antes de adormeceres. O teu sussurro levou-o a brisa de Verão. Olha como Sol vem... Viramos o rosto para ele, como se flores fossemos e deixamo-nos simplesmente ser no aquecer.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Segredo

Reluz a luz do cheiro do teu cabelo,
da pele madrepérola do mistério dos sentidos...
Encontro na distância tocando-se com a ponta do dedo,
apenas no coração das palavras.
Elas nunca fogem de tua mitologia.
Elas brotam de teus poros salgados.
A canção do silêncio a cantamos pela noite dentro
para desvendar não o escondido, mas a própria revelação.
Ensina-me teu sorriso, ensina-me teu olhar.
Ensina-me teu segredo interior.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bicho-solidão

É coisa dos tempos ou sempre foi assim?
Damo-nos tanto até nos isolarmos no dar.
Falamos a mesma lingua-emoção, mas escutamos realmente?
Como quem sente? Como quem está de mãos dadas
com sua própria paz? Como surge este bicho-solidão?
Será em mim? Será em ti? Estará à nossa volta?
Luto com ele todos os dias.
Com ele nivelo-me, fico a conhecer os outros.
Estará na retina? Debaixo da pele?
Estará na mente ou no coração?
Ouço-o agora, esse som familiar... Estará nos ouvidos então?
Já o vou conhecendo e sei que dele retiro meu crescimento.
Não o julgamento aos outros, mas minha compaixão.
E é um ensinamento dificil. Porque tem a ver
com darmo-nos sem nunca nos perdermos.
Tem a ver com vivermos...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Uma espécie de esquecimento

«E se tu fosses a água do meu banho?»
Perguntaste-me um dia. Eu sorri e pensei
que seria as carícias nas curvas do teu corpo,
seria a tranquilidade do teu dia,
teu momento intimo de paz,
pensamento secreto.
Se eu fosse a água do teu banho,
caindo doce no espanto de existires,
cuidaria de ser líquida luz lavando teus receios,
de ser tua lânguida tentação que levarias
para a cama se noite fosse,
e pelo dia fora sorrindo, ao nascer do sol.
Se eu fosse a água do teu banho,
reconheceria cada canto de ti, cada encanto da tua pele,
deslizaria pelo teu cabelo, demoraria em teus lábios
e tua boca aberta a sorver-me em mil gotas,
na dança de teu suave trautear.
A felicidade é uma espécie de esquecimento
onde de repente tudo se acende.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Indizivel

anjo da lua.
moreno como os sonhos de infância,
memórias do quente doce de Verão,
da água beijando os pés e dos sorrisos
comendo o gelado a derreter.
A fotografia fala de sol e azul e mar
fala de luz, de açúcar, de ser feliz,
fala da comichão que tinha no nariz.
Cada momento daquele tempo é agora
e agora é a brisa da ponta dos teus cabelos
fazendo cócegas no meu rosto quente
de plenitude.
Porque teu rosto ao contrário diz-me que estou deitado e é tua sombra a fazer carícia em mim. Plenitude...Que é isso, afinal? É o indizível, dirias tu.
Eu diria que é a frescura da tua pele na minha. Teu olhar de lado meu sorriso. Teu sussurro no meu ouvido. Tudo o que foi passado e tudo o que ainda vai ser vivido.
Um momento a desabrochar feito flor, na emoção luminosa do calor do Verão que ainda há-de chegar.
Pelo mar....
pelo mar....

terça-feira, 6 de abril de 2010

Discutindo o Sol e a Lua

Discutindo o Sol e a Lua, suspensos no ar do sentir.
De onde vem a luz e o calor? De onde vem o amor?
O dia é teu, o dia é meu. Estamos nele como
se ele cama fosse, como se fosse uma fala
nativa do coração do coração.
Aqui à volta existe a paz.
Aqui à volta o dia é capaz
de cantar para nós,
no espaço entre a Lua e o Sol.
Esse espaço misterioso do tempo
do calor de um toque, de uma
simples palavra,
fugidio pensamento.

quarta-feira, 31 de março de 2010

As palavras por nascer

Não é no teu olhar que te reconheço.
Não é no cabelo de mulher selvagem.
Não é no rir de menina travessa.
Não é no corpo que apenas sonho,
no cheiro que dele se evapora.
É em algo muito diferente
que te reconheço: na palavra pensada,
na escrita sentida, no sonho por vir,
no que está em penitencia em tua cabeça.
Vai e entrega-te a teu próprio sentir.
Deixa teu cheiro, deixa tua marca,
deixa tua essência. Esfrega ela em nossos rostos.
Teu grito vai acordar os indiferentes.
Teu cio vai aquecer as palavras por nascer.
Nada será mais igual. A não ser, talvez
aquilo que sempre foste. E que és.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Aqui no jardim

Totalmente fora de controlo os vultos em volta de mim.
Aparecem, desaparecem e no entretanto constroem vidas
para o meu olhar de espera. Como realizamos o truque
de ocuparmos o nosso tempo e espaço?
Abrimos as mãos, deixamos fugir o sentir.
Aqui no jardim, o sol já se pôs e nós brincamos às escondidas.
Onde te meteste, corpo ausente?
Onde te escondeste?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Aurora

Vou desvendar o cheiro do céu da manhã.
Vou para lá voando no sono breve de um sonho.
E tu virás comigo, pois és o dia que nasce,
a noite que se esvai.
O meu voo na calmaria do vazio é acompanhado
pelos teus segredos de chocolate guardados
pela ave a meu lado. Ela guarda os segredos,
eu guardo o coração.
Ela guarda teus medos
para os largar longe,
bem para lá do horizonte.
Eu guardo tuas alegrias
e junto com as minhas,
faremos um monte,
onde dançaremos
na aurora do teu olhar.
Deixa-me só chegar...
Deixa-me só pousar...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Para dar sorte amanhã

Se eu escrevesse poema, seria para dizer que teu olhar
tem-me a mim dentro e que quando olho o mundo
pelos teus olhos me olhando acredito
que afinal me vez como te vejo:
algo apenas sentido que não se ousa explicar
com medo de quebrar...
Se eu escrevesse um poema,
seria para falar das estrelas no teu cabelo
e como me deito e fico olhando para elas,
pois é um céu que não me faz sentir
nem pequenino nem só.
Se escrevesse um poema que fosse
seria de certeza para ti.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Algo para dizer

Se hoje tivesse algo para dizer,
seria de pedra para pedra,
na cumplicidade da surdina,
do frio do toque, do peso da idade.
Hoje esqueço a vontade,
deixo-me estar no estar.
Talvez alguém por mim passe,
me pegue e atire ao mar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

O meu poema mais feliz

Do céu azul, de pés de menina voando,
de luz remexendo meu cabelo,
da canção no rádio e nos lábios cantando.
Na memória de algo assim há muito tempo,
do sabor familiar da comida favorita.
Do céu estrelado à noite e da minha
pequenez olhando... Sonhar
alcançar o infinito dentro de mim.
Este é meu poema mais feliz
porque o fiz assim
ao sabor da brisa,
ao sabor do sabor...
De ser.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

23.2.10

As flores do pensamento na breve suspensão em que estamos.
Já nada detém o fluxo da tranquila alegria dos ócasos partilhados.
Em pura criação sobre os reflexos de madre-pérola para sempre,
para sempre agora na troca de olhares para além do horizonte.
Deixemos que ele deslize até nós. A primavera vem de dentro.
Do respirar nossos corpos no voo sonhado da suave criatividade.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Silêncio que sou

Hoje sou silêncio
sou as gotas de chuva a deslizarem na janela
Sou os carros a passarem ao longe.
E dentro de mim.
Tudo se mistura no silêncio que sou,
Desejo de te saber perto na distância mais doce...
Hoje sou silêncio de mel, pelo sol que guarda,
a doçura que oferece e a cor que me faz sorrir
quando me lembro de ti.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Palpável

Não nos detemos na ilusão. Construímo-la e tornamo-la real como brinquedos de nosso jovem sentir. Mudamos a paisagem ou mudou-nos ela a nós? Tudo é profundamente palpável e os sentidos desabrocham feitos primavera primordial. Alguma vez não foi assim?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

No desaguar

Sonhei que sonhava com os meus pés.
Sonhei que os meus pés sussurravam entre si
algo sobre o desaguar da transparência em que eles se banhavam.
Eram dias alegres, dias de impermanência,
pois afinal, de um sonho se tratava.
Um sonho a sonhar um sonho
ou talvez a sonhar-se a si próprio.
Ecos do docil desassossego do pensar em nada.
No nada que tudo abriga em si, e tudo canta
na dolência do ritmo da absorta inocência.
O nada que se pensa vai e volta
embalado no desaguado agora.
Ecos como caricias de mim,
na água que para mim dança.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Perfeitamente

Perfeitamente, como o teu falar curvilíneo.
Sim, perfeitamente, porque a perfeição
é desbravar a beleza indígena do que por vezes ousamos sonhar.
Sim, sim sempre quando se começa a viagem,
mas ainda não sentimos o doce balancear.
Perfeitamente, quando nossos agora
se enlaçam e se escutam e se...encantam.
Como é o antecipar do momento?
É luz? É orvalho? É mar? És tu a falar?
Sim, perfeitamente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

8.2.2010

Verde é a cor da esperança,
amarelo é a cor da felicidade,
azul é a cor da tranquilidade,
vermelho é a cor da paixão.
Agora faz teu próprio poema.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

8000!

8000 visitas....
A cada uma o meu obrigado.
P.R.N.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Contigo

Não sei, não consigo pensar. O tudo que me rodeia é amplo como o mais pequeno e anónimo pensamento. Rodopio no eixo por ti afirmado sem sequer o desejares. Mas eu desejo o silêncio das carícias do nosso pensar. É noite aqui, é doce aqui contigo.

sábado, 30 de janeiro de 2010

30.1.10

No lugar do coração, nasceu uma estrela
e dentro dela, o doce ritmo do seu coração.
Deixei de ter medo do escuro, das vozes
cumprindo pena dentro de mim.
O Sol nasceu.
Recordo que sempre andou por perto.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Um presente

No presente dia se canta a curva dos dados.
Eles caem e cantam seus sinas para quem quer,
para quem não mais espera de esperança
algum último suspiro. Mas não tu.
Um presente em dia de ficar menina,
na distancia de alguns passos apenas.
Entre aqui e ali, segredos sucedem-se,
entrelaçam-se na dança dos sonhos.
Hoje é um doce navegar na lenta beleza
de sentir, de revelar, de ser, de acreditar.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

25.1.10

Um novo tempo desceu-me assim, sem que por ele desse. De mim parido qual novo dia. A felicidade é uma criança travessa a jogar às escondidas. O tempo de correr no escuro esfumou-se nas paredes do labirinto disfarçado de arco-íris. O tempo de encontrar, sorrir, respirar fundo... acaricia-me de novo o rosto e sinto-me... Não, não o vou dizer. Vou senti-lo.